O
yoga quase todo mundo conhece. É um sistema de harmonização corpo-mente muito
popular nas grandes cidades do mundo inteiro. Já os herdeiros contemporâneos
desse conhecimento milenar, os sadhus, são muito pouco conhecidos, embora
tenham um lugar cativo no nosso imaginário. Quem nunca ouviu falar de mestres
indianos que vivem meditando no topo de montanhas nevadas, prontos para dar
lições de vida àqueles que se aventuram a procurá-los? Os sadhus são os mais
radicais entre tais iogues.
Olivier Boels e Lena Tosta durante visita a Maharaj Amar Bharti. |
Eles
são notórios praticantes de disciplinas como comer só uma vez por dia e vestir
pouca ou nenhuma roupa nos rigorosos invernos do Himalaia, práticas comuns
entre renunciantes, aqueles que rejeitam o modo de vida de mães e pais de
família. Mas os sadhus, em especial aqueles das linhagens naga e aghori, levam
esse estilo de vida um passo adiante, desafiam qualquer limite moral e físico
imposto a seus corpos. Podem decidir fazer o voto de levantar o braço ou
manter-se em pé por décadas a fio, realizar performances com o pênis em
público, viver em campos de cremação e ingerir ritualmente carne humana. Para
os iogues dissidentes, toda transgressão é bem-vinda, pois vivem no corpo o
objetivo de transcender toda dualidade – entre o certo e o errado, o aceitável
e o inaceitável, o possível e o impossível - e, em última instância, entreser
mortal e imortal. A ideia é tomar um atalho para a iluminação, emancipar-se do
ciclo de vidas e mortes que caracteriza o mundo para os hindus.
Segundo
o principal interlocutor desse trabalho, Maharaj Amar Bharti, nagasadhu que
mantém o braço elevado há 37 anos, a era contemporânea é de progressão
exponencial dos ritmos cósmicos de dissolução da unicidade, uma período de
crescente materialismo, sensorialidade e deslizamento de sentidos. Hoje o
caminho dos sadhus se dá no contato direto com o mundo da vida, por meio de uma
pedagogia performática e de uma técnica de (in)disciplinamento que desconstrói
as dualidades de maneira jocosa e relativista. Por isso, o sagrado é acessível
aos sentidos, está aparente no mundo manifestado, em todas suas cores e formas,
em especial no corpo empoderado do asceta virtuose. E também na fotografia
dele. Isto porque a fotografia foi incorporada à tradição dos sadhus como uma
tecnologia de darshan, empoderamento
através da visão. Segundo tal perspectiva, imagens produzidas, editadas e
distribuídas sob os auspícios dos mestres, caso das imagens que apresentamos
aqui, carregam consigo uma narrativa de si, sua intenção e, quiçá, a eficácia
de sua presença. (Texto Lena Dias Tosta - curadoria e coautoria da exposição)
Maharaj Amar Bharti mantém o braço levantado há 37 anos. Foto: Olivier Boels |
Serviço:
Exposição
"Iogues Dissidentes"
Autor: Olivier Boels
De 01 a 30/08 – SESC Ceilândia